quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Cadê a educação, São João?

Moro em São João del-Rei há exatos 1 ano e meio. Desde o primeiro dia, sabia que estava me mudando para 'um novo país'. Só sendo paulista e vindo pra Minas pra saber as diferenças encontradas aqui...
De início, antes de ofender meus colegas sãojoanenses, já aviso: não, Jundiaí/São Paulo não são perfeitos; sim, sou moradora daqui agora - mesmo que provisoriamente - e, portanto, não deveria nutrir essa revolta/repulsa tão grande com algumas coisas daqui. Mas, honestamente, não tenho o que fazer.

Logo quando mudei, percebi o descaso (bem grande, por sinal) em relação ao lixo. Num geral, as pessoas não se preocupam se o porão em seus portões assim que saem pra trabalhar, mas o caminhão que recolhe só passa perto das 16h/17h. Fazendo isso, não pensam nos (dezenas de) milhares cachorros de rua da cidade, que perambulam atrás de comida o dia todo e, sim, vão remexer seu lixo. Não bastando isso, a preocupação com separação do lixo reciclável ou o destino dado a ele é perto de nula. Um dos únicos meios de melhor cuidar desta questão é a Associação dos Catadores de Recicláveis de São João del-Rei (ASCAS), que praticamente mendiga atenção dos órgãos públicos.
E, então, a cidade fica cheia de lixo nos meios-fios, que são facilmente levados até as bocas-de-lobo/bueiros, onde concentram-se e causam, além do mau-cheiro, entupimentos, especialmente nas épocas de chuva. Quisera tal descaso ser somente com o lixo produzido dentro de casa...
Não é necessário andar muito para perceber a falta de lixeiras nas ruas da cidade. Especialmente nas ruas históricas, marco tão valorizado pelos moradores daqui. A quantidade de bitucas de cigarro, papéis dos mais variados - daqueles de bala às páginas de jornal -, caixas diversas e sacolas de supermercado, é incontável. Mais ainda estas últimas. Não se pode, realmente, esperar uma atitude diferente de uma cidade que nunca foi educada a ter onde jogar seu lixo enquanto anda pelas ruas.
Na semana retrasada, voltando de uma caminhada na Serra de São José, me fizeram evidente a volta à 'civilização'. Ao pé da serra, um casal namorava dentro do carro, ambos com seus 40 e poucos anos. Acho que interrompemos algo, eu e meus amigos que estavam juntos, e então a mulher acendeu rapidamente um cigarro. Mas era o último do pacote e ela, então, jogou o maço vazio pela janela. Aquilo me pareceu tão grotescamente errado que minha atitude normal diante de situações como esta - ficar olhando, às vezes recolher e balançar a cabeça em reprovação - foi potencializada. Parei ao lado do carro e olhei fundo no olho da mulher, que me devolveu o olhar com aquela cara de "Quequicêqué?!". Não senti que poderia enfrentá-la. Pensei na falta de educação pela qual ela deveria ter passado durante toda sua vida e segui. Andei e comecei a contabilizar o incontável: quantas vezes cenas iguais a essa já tinham acontecido na minha frente.
Esse é um caso ruim, pois a mulher poderia recolher seu maço vazio e levá-lo para casa, pra jogar no lugar certo. Ou, até mesmo, jogar em seu carro e esquecê-lo lá. E essa incongruência me remete às 07h43 de hoje.
Vindo trabalhar, sonolenta, com Criolo no fone e um passo lento, passei pela mesma rua de todo dia. Dia aberto, mas frio; dá vontade de olhar pro céu. Mas tinha um sobrado no meio do caminho. No meio do caminho tinha um sobrado. No sobrado, uma janela. Na janela, uma moça. Na mão da moça, um papel. Este, por sua vez, lançado no terreno baldio ao lado da casa dela.
Mais uma vez, atitude padrão: olho no olho dela - que estava longe demais para ela enchergar -, passando minha reprovação e a cabeça balançando exterioriza isso.
Nesse ponto, qual a justificativa? Ela estava dentro de casa, com mil saquinhos de supermercado, e, no mínimo, uma lixeira. E minha conclusão é que é simplesmente mais fácil, prático e rápido. Mas também é o pior, o errado e o inconsequente.
"É só um papel de bala"; "É só uma bituca". Todos pensando assim e teremos o inferno, viveremos no lixo. Cadê a educação, São João?