sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Mulher Traída

Minha amada mãe, desconfiada que só ela, me disse, a vida toda, que se demora o tempo de uma caminhada por essa terra para se edificar a confiança e só um ato, num segundo, para "quebrá-la." Beyoncé e Lady Gaga, não muito longe em nosso tempo, dirão que a confiança é como um espelho: uma vez quebrado, você pode até colá-lo, mas ainda conseguirá ver a rachadura no reflexo.
Uma vez perdida, a confiança é quase tão difícil de se encontrar quanto formigas em um monte de terra preta. Essas pequenas criaturas, entretanto, quando se movem, fazem perceber que estão ali e, dessa forma, você sabe que elas existem. Assim é a confiança para a mulher traída. Vez ou outra ela "se mexe" e você sabe que, mesmo pequena, ínfima, ao "monte de terra preta" que você representa, ela existe e é essencial para você. Já com a desconfiança, é o oposto que acontece. A desconfiança é como as folhas secas nessa terra: só passa a ter utilidade quando morre e serve para deixar a terra mais forte. E esse processo é silencioso; você não precisa ver a folha morrendo para saber que ela está ali, agindo o tempo todo. Você não precisa desconfiar o tempo todo para saber que a desconfiança, a sua menor fraqueza, vai dar o bote, soltar o seu veneno e passar a não te deixar em paz pela "coceira" que causa.
Um presente, um elogio, um mimo a mais (qual o parâmetro da mulher traída?) são motivos para se perder o sono. A mulher passa, então, a buscar mais e mais motivos para não se permitir perder seu galanteador de vista. E os motivos vêm, também, da falta: de carinho, de calma, de cumplicidade, de olhares.
E como é difícil para ela ver-se perdida nesse mar de laços frouxos. O nó inicial do compromisso, depois de constantes banhos de descrença e lágrimas, tende a tornar-se algo que ata, mas não segura. Quão confuso é isso? A cabeça da mulher traída nunca é facilmente compreensível e, por isso, a vergonha e a vontade de mudar de dentro para fora. Para que o alvo de sua "admiração torta" não desista da difícil missão de fazê-la satisfeita.
O que move esse sentimento? O que move a vontade de mudá-lo? Ela sabe que o mundo não gira a seu modo e nem deveria; ela sabe que é errada. Tem raiva de si, medo dos outros e ódio daquele que desencadeou tudo de ruim que ela sente hoje, de maneira imprevisível e incontrolável, com esse novo amante, que só merece sua gratidão pela paciência e persistência em tentar colar, calmamente, ela, que é um frasco de vinagre - azedo e despedaçado.

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