terça-feira, 22 de junho de 2010

Muito bom ver minhas aulas da faculdade postas em prática em acontecimentos diários.
Ao estudar jornalismo você passa a vê-lo com outros olhos. Parece que consegue entender tudo que acontece frente à e por trás da câmera, todo o processo que aquela reportagem teve de passar para que existisse, todos os detalhes daquela entrevista. Não só pode entender a prática, como, também, pode aplicar a teoria cotidianamente no simples fato de assistir a um jornal na televisão, ouvi-lo na radio ou comprá-lo na banca.
Há duas semanas, mais ou menos, durante minha aula de "Ciências da Linguagem" com meu professor favorito, assistimos ao documentário "A Revolução Não Será Televisionada" (Kim Bartley e Donnacha O'Briain, 2003), que se trata de um documentário sobre o golpe de Estado aplicado sobre o governo Chavez na Venezuela em 2002.
O documentário é riquíssimo! Baseando-nos nele, tivemos de identificar a linguagem característica dos aliados de Chavez, de seus oposicionistas e da mídia de ambos os lados. Um dos pontos altos do filme é a batalha travada entre os ditos "chavistas" e a oposição, com transmissão da emissora de tv oposta ao governo de Hugo Chavez. Neste episódio, o foco da câmera somente está sobre os seguidores do líder venezuelano, mostrando-os atirando em determinada direção, fazendo, assim, crer que atacavam a oposição e foram, portanto, os grandes responsáveis pela matança ocorrida neste dia, conhecida como "o massacre de Caracas."
Ao tratar deste acontecimento, os documentaristas conseguiram imagens mostrando que, na direção para onde os chavistas atiravam, não havia NINGUÉM. Ou seja? Na verdade, nada tinham a ver com as mortes. Este esclarecimento, porém, não foi de conhecimento geral, fazendo com que a imagem do povo chavista ficasse manchada.

Este ocorrido em muito me lembrou o que ocorreu no último domingo durante a coletiva de imprensa da Seleção Brasileira de Futebol, onde o técnico Dunga se irritou com um repórter da Rede Globo sem motivo aparente. Desde a primeira vez que vi uma reportagem sobre o assunto notei que não houve, em momento algum, uma câmera, também, posicionada para o repórter, mostrando o que ele fazia no momento dos chingamentos, como havia para Dunga. Era uma coletiva e ele era o "personagem principal"? Sim. Porém, sem saber por que Dunga tanto se irritou com o reporter, não há fundamentos para um posicionamento.
Recebi hoje um e-mail que delatava a razão do acontecido como sendo o fato de Dunga ter-se recusado à exclusividade de entrevista para a Rede Globo de alguns de seus jogadores. No e-mail é dito que, no momento exato da filmagem, o repórter Alex Escobar falava ao celular com Tadeu Schimidt que o informava da oposição do técnico. Provavelmente, aconteceram olhares de reprovação ou algo assim, e Dunga quis entender o porquê.
Com este episódio, lembrei-me do documentário e, para mim, ficou clara, novamente, a manipulação de imagens, falas e idéias feita diariamente por emissoras de televisão - focando-se somente nesta mídia. Há, sempre, muito interesse por trás. Não só na "emissora do 'plin-plin'" mas em várias outras, o que é passado ao espectador é o que se espera que ele absorva, e isto, sempre, vai ao encontro das vontades da emissora.
Ultimamente no micro-blog Twitter, tem-se erguido uma onda de reprovação da Rede Globo e de alguns de seus personagens - o movimento "CALA BOCA GALVÃO" e, mais recentemente, "CALA BOCA TADEU SCHIMIDT" são exemplos. Eu, como estudante e aprendiz das diversas estratégias utilizadas para atrair audiência e manipulá-la, sou a favor deste "boicote" â emissora. Como já dito, a Globo não é a única a usar e abusar destas estratégias, porém, outras emissoras não o fazem de forma tão evidente - ou não tão adversas com a realidade de seu público - como a grande emissora.
É preciso que o telespectador esteja sempre atento ao que vê para que perceba a manipulação e não se deixe levar. Quanto mais longe encontrar-se desta indústria, mais alto falará sua vontade e, caso adverso seu posicionamento quanto à emissora, menor será a audiência (responsável por fazer esse grande ciclo continuar).
O último movimento "anti-manipulação" - por assim dizer - do qual tomei conhecimento foi o "dia sem Globo", no qual Sexta-feira, 25/06, haverá boicote de espectadores da emissora durante o jogo Brasil x Portugal. Apoio a iniciativa e creio que, com ela, serão duas "preocupações" a menos: primeiramente poder assistir ao jogo sem as vuvuzeladas de baboseiras despejadas por Galvão Bueno durante a partida e, em seguida, mostrar sua indignação com o ocorrido de domingo e com a emissora, através da não-audiência. Adira ao Dia Sem-Globo!

O ciclo se fecha com um sentimento de dever cumprido e com a chegada do sono.

2 comentários:

  1. Adorei o texto, Laís! Eu também já assisti esse documentário do Chavez (nesse semestre, inclusive. E ainda tenho uma amiga venezuelana na minha sala, então imagina a discussão!). E como estudante de jornalismo, tenho a mesma visão que você. Aprendemos na aula que a imparcialidade deve ser uma das diretrizes do jornalismo, e é triste saber que na prática quase nenhum veículo de comunicação segue isso. Os interesses políticos e econômicos ainda prevalecem sobre o direito à informação clara e objetiva, e por isso, a manipulação reina. Caberá a nós, futuras jornalistas, reverter a situação e ao menos diminuir esse controle.

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  2. Bem-vinda ao mundo da paranóia!

    acredite, mas não consigo mais assistir televisão...

    falou tudo, lais!

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